Este fim de semana eu estava vendo uns vídeos de “vida na fazenda” (sim, eu vejo essas coisas…), e prestando atenção nos cães, claro. Eles corriam, nadavam, sassaricavam o dia todo atrás dos humanos, até cansarem e se jogarem cada um num canto para repor as energias para o dia seguinte. É, assim é fácil ficarem em forma, saudáveis e felizes, pensei (com um ponta de inveja, admito), mas … e a gente que mora “na Capital”? Gastar a energia e manter nossos cães saudáveis é um desafio diário.
É fácil dizer – tem que passear com o cachorro – mas como fazer disso um momento efetivo para ele e agradável para todos, no meio dessas selvas de pedra em que vivemos? Será que existe o passeio perfeito?
Comecemos entendendo que o passeio tem várias funções: gastar energia, gerar condicionamento físico, reforçar o senso de matilha e a hierarquia interna desta, relaxar a cabeça, e proporcionar estímulos mentais. É um momento de conexão, aprendizado e enriquecimento físico e mental.
“Passeio” pode ser desde a famosa “volta no quarteirão”, até uma corridinha matinal, uma bela caminhada no parque, sair para almoçar na beira da praia com amigos ou visitar aquela tia no domingo à tarde. Tudo isso pode trazer todos os benefícios que listamos no parágrafo anterior, principalmente porque, no dia a dia, provavelmente você fará uma mistura disso tudo. Caminhar no parque ou na praia todo dia é um privilégio para poucos, mas nos fim de semana ou feriados pode ser um super programa – passeio no parque ou praia, emendando com almoço com amigos no restaurante pet friendly e depois um filme na casa da tia! Dia perfeito para você e seu cão!
Não existe o “passeio logo demais”, o peludo pode passar literalmente o dia inteiro na rua com você, será ótimo para ele. Só é preciso, claro, bom senso em relação a aonde ir, e se é viável para o seu cachorro. A temperatura ambiente, por exemplo, pode ser um impeditivo dependendo do cão ou da época do ano, excesso de barulho também. Use o bom senso.
Mas não importa para qual tipo de passeio, precisamos começar pelo começo, já que para que o passeio com seu peludo traga todos esses benefícios, o é preciso que algumas etapas aconteçam:
* Preparo
Essa etapa é muito importante, pois ela define para o cachorro o “tom” do que vai acontecer. Se a gente agita o ambiente, sai sem regras, fazendo bagunça, ele sairá de casa todo agitado e sem controle, em excitação pura e será muito difícil reverter esse estado de espírito depois. Na maioria dos casos, o melhor a fazer é ter uma saída focada e organizada.
1. Colocação da coleira e guia
O ideal é ensinar o peludo a sentar para colocar a coleira e guia. Se ele ainda não souber, e você não quiser ensinar, pelo menos use um petisco para chamar a sua atenção, e só coloque a coleira quando ele estiver quieto. Mantenha-se com uma postura tranquila e paciente, pois pode demorar um pouco para ele sossegar no início, se já está acostumado a ficar agitado e você dando um jeito para colocar a coleira no meio da confusão. Rapidamente ele vai aprender que este é o início previsível de uma atividade prazerosa, que para ir a diante ele precisa ficar quieto, e ficará.
2. Saída do apartamento/casa
Não permita que o cachorro saia correndo pela porta. Peça para sentar, espere que ele esteja calmo e só então abra a porta. Uma vez a porta aberta, ele deve esperar que você dê o primeiro passo para sair, e sair com você de forma “civilizada”. Repita esse procedimento até que ele espere calmamente mesmo diante de estímulos externos, como outros moradores ou sons no corredor. Esta rotina ensina autocontrole e mostra que, para avançar, ele precisa estar tranquilo. Também reforça o seu papel de líder desse time, e tomador de decisões durante o passeio.
3. Elevador e saída do prédio
Ao esperar e entrar no elevador, faça a mesma rotina de saída do apartamento. Aqui ela é especialmente importante, já que ao abrir a porta do elevador você precisa ver se está ok para ele entrar. Pode ter morador que tem medo, outro cachorro, carrinhos de bebê, feira, bicicleta … enfim, elevadores são eternas surpresas e ele tem que esperar você dizer que pode entrar. No hall ou nas áreas comuns do prédio, mantenha o controle e esteja atento para evitar, ou manejar adequadamente, encontros com pessoas ou outros animais.
* Durante o Passeio
Ao sair do prédio, leve-o logo a um lugar adequado (canteiro, meio fio, etc) para aquele primeiro e esperado xixi. Deixe que cheire um pouco em volta e se alivie o quanto precisar. Não esqueça o saquinho coletor de fezes e evite que ele faça xixi onde as pessoas passam. Feito isso, é hora de começar a caminhar.
1. Ritmo e foco
Defina um primeiro estirão de caminhada, ou seja, até onde vocês caminharão sem pausar. Pode ser um quarteirão, ou dois, ou mais, vai depender de você e do seu peludo. Para um Chihuahua, um quarteirão já é um tanto, para um Labrador é quase nada.
Caminhe com ritmo até onde definiu, sem paradas para cheirar ou marcar todos os postes do caminho. Se ele tentar parar, não deixe, agora é hora de focar em você e no exercício e não no mundo a volta. Ele deve andar ao seu lado, nem na frente, nem atrás, e sem zigue zagues. Isso não significa rigidez, mas estrutura e segurança, já que você verá coisas no chão, ou mesmo outros cães ou pessoas que surjam no caminho ao mesmo tempo que ele, e não só depois como acontece quando ele vai lá na frente. Isso também reforça o sentido de companheirismo e conexão, afinal, vocês estão passeando juntos! Não se deixe arrastar, nem o arraste, se ele não sabe ainda andar ao lado, procure um treinador para te ensinar como fazer.
Dica: Fazer meia volta sempre que ele adiantar, muitas vezes ajuda. Nos primeiros dias você parecerá meio doido(a), indo e vindo vinte vezes no mesmo caminho, e pode demorar para o passeio avançar, mas é um bom investimento no futuro.
2. Momentos para cheirar
Chegando ao ponto pré determinado por você, é hora de relaxar um pouco e cheirar em volta, fazer mais um xixi e quem sabe socializar um pouco. O olfato é a principal forma dele interpretar o mundo, então respeite esses momentos de exploração, eles o ajudarão a relaxar e aumentam sua satisfação.
Você pode intercalar vários períodos de caminhada com de relaxamento, ou pode ter uma grande caminhada, por exemplo até o “Parcão”, e lá ele vai cheirar e relaxar por um tempão. O importante é ter ambas as fases no passeio.
Dica: Estabeleça sinais claros: um comando como “vamos” na hora de andar, e “pode cheirar” quando for a hora, para que ele saiba o que você espera dele.
3. Interações sociais
A socialização, tanto com humanos quanto com outros cães é muito importante, desde que de forma controlada e respeitosa. Observe a linguagem corporal do seu cão. Ele gosta de estranhos? Gosta de outros cães? Se ele gosta, ótimo, nos momentos de relaxamento, ele deve interagir o máximo possível, tanto com humanos como com outros cães. Mas sempre observe o outro cão antes de permitir aproximação, e pergunte ao seu tutor se a interação é bem-vinda, já que pode ser que o outro cão não seja sociável. Principalmente para cães jovens socializar é muito importante. Porém, essas experiências devem ser tranquilas e positivas, então evite situações que possam assustá-lo e gerar uma resposta agressiva, tanto com humanos quanto com outros animais.
Mas se seu cão não gosta de estranhos, nem de outros cães, respeite-o. Avise as pessoas que ele não gosta de ser tocado ou cheirado. Não force interações que o deixem com medo ou agressivo. Mas ao mesmo tempo ensine-o a tolerar a presença de pessoas e outros cães ao seu redor. Ele não precisa interagir, mas não pode agredir, isso é educação e ele tem que aprender, já que só assim poderá ir com você a qualquer lugar.
Dica final: O passeio ideal é aquele que equilibra exercício, disciplina, cooperação e a possibilidade do cão exercer seus comportamentos naturais. Lembrando que cada cão é um indivíduo, seja observador, paciente e consistente. Esse momento, além de essencial para a saúde física e mental do cão, é uma oportunidade valiosa para estreitar os laços de confiança e respeito e amor entre vocês, aproveite!