Dia desses eu estava andando na rua e vi uma mudança chegando. Parei para que um sofá passasse e vi entrando no prédio uma moça que gritava para outra: “Sobe logo com ele, ele está histérico”. Na guia aos seus pés, um cachorrinho latia, rodava e avançava em tudo. Ela viu que eu prestava atenção, olhando com simpatia, então deu um sorriso amarelo e disse: “Ele ficou estressado demais com a mudança, até me mordeu e não come há 2 dias”.
Morri de pena de todos os envolvidos. Lembrei de quantas vezes, na minha rotina de atendimentos da LordCão, fui chamada para ajudar cães que estavam “esquisitos” depois de uma mudança de endereço. Insegurança, falta de apetite e até agressividade às vezes apareciam no novo endereço, aparentemente sem motivo. Mas como sabemos que nada com cachorro é sem motivo, depois de alguma conversa e observação, ficava claro que o peludo estava na realidade confuso, ansioso e sem entender o que tinha acontecido.
Então, qual seria a forma ideal de lidar com nossos pets quando vamos nos mudar, para que tudo corra da forma mais tranquila possível?
Antes de mais nada, vale lembrar, que o ideal na vida de um pet, sobretudo um cachorro, é ter experiências variadas. Passear por lugares diferentes, conhecer novos lugares e eventualmente dormir fora de casa (viagem, hospedagem, fim de semana na casa da avó …) são experiências que todo peludo deveria ter. Elas enriquecem a sua existência, ensinam auto confiança e tranquilidade diante de novas situações e novas pessoas. E num momento de mudança, esse histórico pode ajudar muito.
Voltando à mudança em si:
Começando pelos dias de preparo: para muitos cães, e alguns gatos, a presença de estranhos em casa, e mexendo em tudo, pode ser muito estressante. Fora a agitação da família e da equipe da mudança em si, eles não entendem o que aquelas pessoas estão fazendo, sumindo com tudo em sacos e caixas. Muitos cães ficam até protetores, e a maioria fica bastante ansioso. Gatos costumas se enfiar num canto e só sair quando tudo sossegar.
Por isso vale pensar em levar o peludo, sobretudo os cães, para uma hospedagem nessa hora. Geralmente o processo de embalagem demora um dia, depois tem o dia da mudança em si, e o dia seguinte (na casa nova) ainda de muita bagunça. Ou seja, 3 a 4 dias de caos, que ele não precisa presenciar.
Na hospedagem ele terá uma rotina diferente, num lugar diferente, sem ver nada de bagunça nas “suas” coisas, nem estranhos na “sua” casa. Estará de férias, enquanto os humanos enlouquecem.
Para que ele aproveite melhor, o ideal é que não seja a primeira vez que ele sai de casa, então, se ele nunca saiu e você vai se mudar, programe uma primeira hospedagem de fim de semana para ele acostumar e você já saber se ele fica bem.
Já no caso dos gatos, muitas vezes sair de casa é mais estressante do que ver a bagunça. Poucos gatos gostam de passear ou viajar, então a solução para esses é reservar um quarto para eles, onde não se mexa em nada, ou o menos possivel, até o último momento. Isso pode funcionar também para cães muito medrosos, ou muito idosos, que se estressariam muito ao sair de casa.
Temos então 2 possibilidades de manejo:
1. Se o pet estiver hospedado, ele sairá antes do encaixotamento das coisas e voltará diretamente para a casa nova, quando as coisas mais significativas já estiverem no lugar (camas, sofá, poltronas, mesas e cadeiras, etc).
Ele vai estranhar, claro, mas o cheiro familiar passará conforto para ele (leve tudo velho dele! Nada de aproveitar a mudança para refazer o enxoval do peludo, deixe isso para depois). Mantenha a rotina que tinham antes, os mesmos horários de comida e passeios (no caso dos cães) e tente se organizar para estar mais em casa nos primeiros dias para ficar de olho nele. No caso dos cães, se ele parecer ansioso, aumente o passeio, jogue uma bolinha, distraia-o de alguma forma. Só não use petiscos! Petiscos podem fazer com que ele ache que está sendo premiado por estar nesse estado, e nós não queremos isso.No caso dos gatos, inicialmente pode-se colocar tudo dele em um cômodo, deixá-lo só nesse cômodo e esperar que ele demonstre tranquilidade e vontade de sair para explorar o resto na nova casa. Vale fechar alguns cômodos, e ir abrindo conforme ele se acostume com os primeiros. Se ele estiver muito agitado ou com medo, deixe nesse cômodo inicial pelo tempo que for preciso até ele relaxar, e tente brincar e animá-lo a interagir.
2. Se o pet não estiver hospedado, mas com você o tempo todo, o melhor é tentar isolá-lo o máximo possível do processo. Use o quarto que ele estiver acostumado a dormir como bunker, coloque tudo dele lá e não deixe que estranhos entrem. Como você vai fazer para fazer a mudança desse quarto vai depender de cada caso … e da sua criatividade.
Como exemplo prático, vou contar como fiz quando me mudei.
O Ludwig (cachorro) foi para a hospedagem na quinta de manhã, e o Simba e a Nala (gatos) ficaram. Eu mesma tirei o que pude do meu quarto na quarta-feira, e quando o pessoal da embalagem chegou, fechei os gatos lá, com comida, água e banheiro por todo o dia. A noite deixei saírem. Acharam meio estranho aquele monte de caixas e coisas enroladas, mas já não tinha ninguém estranho, então ficaram bem. No dia seguinte, trancados no quarto (e a chave no meu bolso para evitar acidentes) enquanto as coisas desciam para o caminhão. Quando chegou a hora de irmos (já tinham descido tudo, só faltavam os móveis do meu quarto), saí com eles nas caixinhas e seus pertences em sacolas direto para carro. Cheguei no apto novo junto com o caminhão e rapidamente, coloquei-os com todas as suas coisas no novo escritório. De novo porta trancada e chave no meu bolso. Conforme as coisas iam entrando, arrumamos o que deu, priorizando o meu quarto. À noite, quando tudo estava calmo, isolei cozinha e sala e abri a porta do escritório. Aos poucos, quiseram explorar. Corredor, meu quarto, banheiro … deixei. Não comeram bem esse dia, mas dormiram comigo normalmente, e no dia seguinte (sábado) já estavam mais relax, indo e vindo entre os cômodos. Quiseram explorar o resto do apto, deixei, e como estavam tranquilos, já botei banheiros e comidas nos lugares definitivos, e eles comeram e usaram os banheiros numa boa. O domingo foi dedicado à arrumação, mas sem estranhos em casa, então ficaram super bem. Na segunda-feira, Ludwig chegou da hospedagem já com suas coisinhas todas arrumadas. Ele cheirou tudo ficou de olho meio arregalado, do tipo “porque tudo nosso está nessa casa estranha?”. Passeamos para relaxar, ele já animado com os novos cheiros da vizinhança. Comeu e dormiu bem e durante a semana foi relaxando cada vez mais. No fim de semana seguinte já estávamos todos “em casa”, felizes com nosso novo espaço.
Um ponto importante de mencionar, é que apesar de entendermos e respeitarmos o tempo de cada pet para se adaptar, as regras básicas da casa e de comportamento não podem ser negligenciadas por conta da mudança. O local do banheiro precisa ser mostrado e reforçado com consistência, talvez seja preciso corrigir latidos para barulhos novos na vizinhança e mostrar que não são nada demais. Isso tudo a partir do primeiro dia, pois é mais fácil já adaptar certo do que ter que corrigir depois. Com persistência, paciência e carinho, qualquer lugar rapidamente se torna um lar, afinal, o que nossos pets mais querem é estar conosco, não importa onde!
